Caminhos da Glória: Os heróis improváveis de 2011

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,18/09/2024

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Caminhos da Glória: Os heróis improváveis de 2011

No futebol geralmente presenciamos situações em que um simples jogador coadjuvante acaba se tornando um herói. Em 2011 na Copa da Ásia, o Japão teve mais de um jogador


Caminhos da Glória: Os heróis improváveis de 2011 Elenco campeão da Copa da Ásia de 2011, disputada no Catar

No quarto e último episódio de Caminhos da Glória, você vai ficar por dentro do quarto e último título japonês na Copa da Ásia, em 2011, disputada no Catar, e cujo herói do título foi um reserva improvável, que aparecia pouco... e surgiu para fazer história.


O técnico Alberto Zaccheroni ergue a taça junto com o capitão Makoto Hasebe
Foto: Getty Images

Após a Copa de 2010, onde o Japão foi eliminado pelo Paraguai nas oitavas de final com uma derrota nos pênaltis, o técnico Takeshi Okada (que já havia comandado os Samurais na Copa de 1998) deixou o cargo, após conduzir uma reformulação e convocar diversos jovens, como os laterais Uchida e Nagatomo e o armador Shinji Kagawa. No seu lugar, assumiu o italiano Alberto Zaccheroni, ex-treinador de times como Milan, Internazionale, Torino e Juventus. Nos anos 90, "Zac", como é chamado, conduziu a Udinese à uma grande campanha na Serie A italiana, capitaneada por Amoroso, Oliver Bierhoff e Paolo Poggi, baseado num 3-4-3 bastante ofensivo e criativo, mas, depois da passagem pelo Milan, onde conseguiu um Scudetto (campeonato italiano), um trabalho discreto na Lazio, um quarto lugar com a Inter, passagem apagada no Toro e na Juventus, onde o objetivo era conseguir a vaga na Champions após a passagem ruim de Ciro Ferrara, mas ele não foi cumprido. No Japão, Zaccheroni chegou implantando seu esquema, mas com uma leve diferença: o esquema era mais híbrido do que o tradicional, usado pelo treinador. Em algumas partidas, Zaccheroni preferia usar o 4-3-3; em outras, o 3-4-3; e em outras, o esquema variava durante o jogo entre 3-4-3 e 4-3-3. 

O início do trabalho de Zac foi satisfatório: 3 vitórias - contra o mesmo Paraguai que tirou os Samurais da Copa, Guatemala e Argentina e um empate sem gols contra a Coreia do Sul, o que motivou os japoneses para a Copa da Ásia seguinte, que foi disputada no Qatar. Nessas três vitórias, apenas a Guatemala conseguiu furar o sistema defensivo japonês, que já vinha de uma boa apresentação na Copa do Mundo, ainda com Okada.



Os Samurais caíram em um grupo com Arábia Saudita, Síria e Jordânia. A estreia foi contra os jordanianos, em Doha - no campo do Qatar SC, e o jogo se mostrou complicado desde o início. A bem organizada Jordânia fez uso de uma marcação forte, cerrada e consistente, enquanto o Japão fazia uso de uma construção calma, baseando-se no esquema de três zagueiros, girando a bola com calma e tentando perfurar a defesa dos Nashamas com liberdade ofensiva. A estratégia jordaniana funcionou melhor no primeiro tempo, pois foram eles que tiveram a melhores oportunidades - o Japão só conseguiu criar uma boa chance, em finalização de Kagawa. A Jordânia, mantendo sua forma de jogar, conseguiu abrir o placar no fim do primeiro tempo, quando Amer recebeu lançamento, tabelou com Baha Suleiman e serviu Abdel Fattah, que finalizou de fora da área. A bola desviou em Yoshida e encobriu Kawashima: placar aberto, 1 a 0.

No segundo tempo, o Japão começou a pressionar mais, mesmo de forma atabalhoada, e teve oportunidades com Hasebe, Okazaki - por duas vezes e Honda, além de cruzar diversas vezes a bola na área. E foi em um desses cruzamentos que saiu o gol, nos acréscimos: após uma cobrança curta de escanteio, Hasebe levantou na área, o goleiro Amer Sabbah calculou mal, não saiu e Yoshida cabeceou e conseguiu o empate em 1 a 1. O empate não era bom, mas também não foi um dos piores.


A segunda rodada foi contra a Síria, que vinha de uma vitória contra a Arábia Saudita. Os Samurais conseguiram uma vitória por 2 a 1 na base do esforço, com gols de Hasebe, aproveitando um bate-rebate e finalizando de fora da área, sem chances para o goleiro Balhus, e Honda, de pênalti. A Síria chegou a buscar o empate, com Al-Khatib, também de pênalti, num lance completamente atrapalhado do goleiro Kawashima.


Na última rodada dos grupos, o Japão dependia só de um empate para classificar, contra a já eliminada Arábia Saudita. O jogo, disputado na cidade de Al Rayyan, foi muito tranquilo: aos 20 minutos, já estava 3 a 0 para os Samurais: dois gols de Okazaki, sendo um de cobertura e outro de cabeça, e Maeda após um lançamento de Kagawa depois do passe de Nagatomo. No segundo tempo, o Japão ainda conseguiu fazer mais dois gols: de novo Maeda, em jogada aérea, mas dessa vez após levantamento de Hasebe, e novamente de Okazaki, que recebeu, tabelou com Maeda e colocou no ângulo do goleiro Abdullah. Uma goleada inapelável que serviu para aumentar a confiança dos comandados de Zaccheroni. Classificação garantida em primeiro lugar - agora para enfrentar o Qatar, dono da casa e vice-líder do grupo A.


O mata-mata dos heróis improváveis

 

A batalha contra o Catar, disputada no Al-Gharafa Stadium, em Al-Rayyan, foi complicada. Os cataris, treinados pelo francês Bruno Metsu - que levou Senegal para as quartas da Copa do Mundo em 2002, deram trabalho para os japoneses e saíram na frente aos 13 do primeiro tempo, quando Sebastián Soria, uruguaio naturalizado catari, recebeu um contra-ataque em alta velocidade, deu um drible bonito em Yoshida e tirou de Kawashima, abrindo o placar. O empate veio em uma belíssima construção: Kagawa recebeu, tocou para Honda, que serviu Okazaki, que deu um tapinha por cima do goleiro para deixar o próprio Kagawa na cara do gol. Um golaço! 1 a 1.

No segundo tempo, dois lances pareciam que iriam determinar o resultado final do jogo: em uma saída de bola absolutamente equivocada, Yoshida derrubou Ahmed na lateral da área. Como já tinha amarelo, o zagueiro foi expulso pelo árbitro Subkhiddin Mohd Salleh. E se ficou complicado com a expulsão, a situação veio a piorar: Fábio César foi para cobrança e bateu a falta de forma cruzada. Ela foi na direção do gol e Kawashima acabou aceitando, tirando a bola de dentro do gol. Catar 2 a 1 e a situação era bastante complicada para os Samurais. Após a expulsão e o gol, Zaccheroni resolveu adotar um 3-4-2 na fase ofensiva: sacou Maeda e colocou o zagueiro Iwamasa, recuando Konno e adiantando Kagawa para a posição de segundo atacante. A alteração tática funcionou instantaneamente: Endo iniciou a jogada e serviu Honda, que levantou na direção de Okazaki. O centroavante não dominou, mas ela rebateu no zagueiro e caiu no pé do camisa 10, que tirou do goleiro: 2 a 2.

Após esse gol, o jogo ficou completamente aberto: o Catar partiu pra cima, tentando atacar e dominando a posse de bola, o Japão se posicionou na defesa e buscou mais contra-ataques, em função de estar com 1 a menos. Mesmo assim, os Samurais se mostravam muito conscientes com a bola, trabalhando bem quando a tinham. E em um desses momentos, o Japão conseguiu a virada, em uma jogada muito parecida com a do segundo gol: Hasebe serviu Kagawa, que tentou driblar o goleiro mas foi desarmado; porém, a bola sobrou para um herói improvável: Masahiko Inoha, zagueiro, que não tinha nenhum gol pela seleção japonesa. Ele só empurrou para o fundo das redes e anotou o terceiro gol! A classificação estava nas mãos japonesas, que conseguiram segurar o resultado e garantir a vaga.

   

A semifinal foi disputada contra a Coreia do Sul, que eliminado o Irã na prorrogação, no mesmo estádio em Al-Rayyan. No começo do jogo, Okazaki fez Sung-ryong Jung trabalhar após uma cabeçada espetacular, mas, logo depois, em lance fortuito, a Coreia do Sul conseguiu um pênalti: Konno empurrou Park Ji-Sung dentro da área, sem a menor necessidade. Ki Sung-yeung cobrou com perfeição e abriu o placar: 1 a 0 para os sul-coreanos. Aos 38 minutos, o Japão conseguiu empatar: Honda deu um belo passe para Nagatomo que infiltrou na área e apenas passou para Maeda empurrar para o fundo das redes: 1 a 1. O segundo tempo foi de pouquíssimas chances claras: apenas algumas cabeçadas para fora e uma cobrança de falta perigosa de Lee Yong-rae, mas que foi para fora. Nesse cenário de poucas chances, o jogo se manteve no empate, e foi para a prorrogação.

Na prorrogação, os Samurais tentaram se impor mais e pressionar, buscando a classificação, e conseguiram um pênalti, quando Cho Yong-ryung fez um pênalti absolutamente estúpido em Okazaki. Na cobrança partiu Honda, mas o camisa 18 bateu muito mal, parando em Jung, porém Hosogai aproveitou o rebote e fez o segundo: 2 a 1. Após o gol, o Japão recuou e ficou menos com a bola, deixando-a para os sul-coreanos. Apesar do domínio ser territorial, a pressão não era grande, então os Samurais passaram a controlar o jogo, esfriar e deixar o tempo passar. Porém, em uma bola alta, a Coreia do Sul conseguiu empatar: após cobrança de falta na área e um bate-rebate, o zagueiro Hwang Jae-won encheu o pé e empatou, levando o jogo para os pênaltis.

A disputa começou com uma bela cobrança de Honda, que não deu chances para Jung, e com uma defesa espetacular de Kawashima na cobrança de Koo Ja-cheol. Okazaki também converteu a sua com muita facilidade, batendo no alto, de forma indefensável para Jung, e Kawashima fez sua parte, pegando a cobrança de Lee. A terceira cobrança, de Nagatomo, foi muito ruim, e a de Hong Jeong-ho foi ainda pior. A bola do jogo, que era pra garantir na final, foi de Kanno, que bateu bem, deslocando Jung e garantindo os Samurais de volta a final após sete anos, com enorme participação do goleiro Kawashima.


O herói inesperado da final

O adversário da final foi conhecido no mesmo dia, quando a Austrália jogou contra o Uzbequistão e passou com muita facilidade: um 6 a 0 ao natural, com gols de Kewell, Ognenovski, Carney, Emerton, Valeri e Robbie Kruse. Os "Socceroos" tinham um time de bom nivel técnico, com Jedinak, Harry Kewell, Tim Cahill, Carl Valeri e outros jogadores muito importantes, que elevavam o nível da equipe, e eram treinados por um velho conhecido do futebol japonês: o alemão Holger Osieck, que treinou o Urawa Reds por duas vezes (entre 1995 e 1996 e entre 2007 e 2008), conquistando a Champions League asiática em 2007. Osieck também foi auxiliar de Franz Beckenbauer no título alemão da Copa de 1990.

Os australianos foram bem em boa parte do jogo: tiveram oportunidades, criaram, finalizaram bastante, se impuseram, mas pararam em Kawashima e na própria imprecisão nas finalizações. No primeiro tempo, o goleiro japonês não trabalhou tanto, mas, no segundo tempo, ele precisou atuar, quando Harry Kewell aproveitou a falha de Daiki Iwamasa e saiu na cara do gol: ele se esticou e fez uma defesa de futsal, impedindo o primeiro gol australiano. No fim do jogo, 0 a 0 e mais uma prorrogação para os Samurais Azuis.

Na prorrogação, a Austrália seguiu criando, com McKay tendo uma boa oportunidade - que mandou direto pra fora, e Kawashima atuando novamente, defendeu a cabeçada de Harry Kewell, e o Japão também teve suas chances, com Honda, que bateu de fora da área, mas acabou mandando ao lado do gol de Schwarzer. A prorrogação foi para o segundo tempo, e logo aos 4 minutos, apareceu um herói improvável: Tadanari Lee, centroavante de 25 anos do Sanfrecce Hiroshima, que tinha realizado apenas uma partida oficial pelos Samurais. Após excelente cruzamento de Nagatomo, que passou por Wilkshire antes de colocar na área, o camisa 19 pegou de primeira, no alto, tirando as chances do goleiro Mark Schwarzer e deixando em êxtase os torcedores japoneses presentes no Estádio Khalifa: Japão 1, Austrália 0. Os Socceroos chegaram a pressionar com mais força após o gol de Lee, mas não tiveram grandes chances, parando no sistema defensivo japonês. Os Samurais conseguiram segurar o resultado e cravaram a vitória e mais uma taça: o tetracampeonato da Ásia estava confirmado!

O título foi muito importante para a geração, que estava assumindo seu protagonismo após disputarem juntos a Copa em 2010, durante o processo de renovação que começou ainda com o bósnio Ivica Osim, e, também, para alguns jogadores, como Okazaki, que foi vendido do Shimizu S-Pulse ao Stuttgart durante a Copa da Ásia, o próprio Lee, que foi para o Southampton um ano depois, e Nagatomo, que deixou o Cesena e foi contratado pela Internazionale. O Japão teve alguns resultados irregulares no pós Copa da Ásia, como a fraca campanha na Copa das Confederações de 2011, mas garantiu sua classificação facilmente para a Copa do Mundo do Brasil, jogando um futebol leve e eficiente - tendo sido a primeira seleção a se classificar; porém, não realizou uma boa campanha.

A série terminou, e com isso, relembramos os troféus conquistados pelos Samurais na Copa da Ásia até o presente momento. Também relembramos grandes jogos, heróis improváveis e diversos nomes que fizeram história vestindo a camisa da seleção japonesa. Todos esses nomes motivaram com o seu legado as gerações posteriores e conquistaram muitos torcedores no Japão e no mundo. Até a próxima!




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